Letícia Riente
Você já parou para refletir sobre como a comunicação está se transformando – não só por causa das redes sociais, mas por tudo o que elas representam para a sociedade, marcas e pessoas? Pois é, o tema é complexo e se ramifica de várias maneiras. Mas a Sing Comunicação esteve neste mês no 5º Abracom Digital, promovido pela Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom), em parceria com a Lexis Nexis, que tentou trazer luz ao assunto, bem como a outros que o englobam.
A palestra da Lexis Nexis foi um destaque, mas não podemos deixar de mencionar os aprendizados que ecoaram em outros painéis. Entre dados, polarização, economia da atenção e o desafio de contar histórias consistentes, uma coisa ficou clara: comunicar é muito mais que divulgar textos, posts para redes sociais ou ações de relações públicas e mídias no geral. É aproveitar o presente pensando no futuro.
Construindo confiança em um cenário de fragmentação
Durante o primeiro painel, um ponto essencial foi abordado: vivemos na era da economia da atenção. As pessoas consomem fragmentos de conteúdo – um post aqui, um vídeo ali, e não exatamente na sequência que planejamos como comunicadores ou responsáveis pelas redes sociais de uma empresa. A comunicação, então, precisa de coerência. Contar uma história vai além de uma sucessão de conteúdo. É fazer com que aquela mensagem impacte os consumidores em diferentes momentos e níveis, de maneira a estar em seu subconsciente. E saber disso com certeza frustrará menos as equipes de comunicação envolvidas em ações dessa natureza.
Nesse cenário, errar a mão na comunicação pode ser desastroso. Como bem pontuado, “uma coisa mal colocada é pior que uma interrupção de programação”. O público não tolera mensagens desalinhadas – muito menos quando elas são desrespeitosas ou vazias. Cada post, campanha ou resposta faz parte de uma história maior, e as marcas precisam contar essa história com autenticidade.
Dados: do volume à interpretação
Atualmente, não tem como falarmos de comunicação sem falarmos também de dados. Aliás, não há como falar sobre qualquer coisa, qualquer negócio, sem frisarmos sobre as informações que ele gera, retém ou analisa. Por isso, outro ponto alto do evento foi o painel sobre dados e comportamento do consumidor. Como comunicadores, temos à disposição um volume quase infinito de informações, mas o desafio é transformá-las em algo útil. Isso porque estamos falando de percepções, e não de “dados reais”. Isto é, temos em mãos sentimentos capturados em tempo real, mas voláteis. E, na comunicação, o que vale é a última impressão que uma marca ou personalidade deixa.
Pensando por essa linha, o foco aqui não deve ser em análises de vaidade, mas em insights que direcionam estratégias reais. Em vez de moldar os dados para confirmar nossas crenças, precisamos ouvi-los, fazer o caminho inverso.
Mas como entender os detalhes que realmente importam? A habilidade de interpretar dados – não só de gerá-los – é o que vai diferenciar as equipes de comunicação pelo mundo, ainda mais com a inteligência artificial trabalhando intensamente e em todos os processos do nosso dia a dia.
Polarização e o papel das marcas
Já o painel da Lexis Nexis, conduzido por Ana Luísa Nogueira (gerente de novos negócios), apresentou um estudo que me deixou pensativa: algumas marcas são mais suscetíveis a boicotes que outras. Fatores como polarização da base de consumidores, substituição fácil do produto e visibilidade do consumo podem ampliar o risco. As marcas, portanto, devem aprender a navegar em águas turbulentas sem alienar seus públicos.
Um exemplo emblemático foi o caso da cerveja Bud Light, que a partir da opinião de políticos dos EUA, perdeu mercado e reputação, levando as discussões para outros patamares. A questão não é apenas o que a marca comunica, mas como a percepção pública ressoou no contexto atual. Isso mostra como política, economia e sociedade estão profundamente conectadas à confiança das empresas.
Dados + tecnologia = empatia
No campo tecnológico, outro aprendizado profundo foi sobre como os dados precisam estar a serviço do negócio e das pessoas. A Lexis Nexis destacou que muitos projetos de dados falham porque são tratados como questões puramente tecnológicas, quando deveriam partir das dores do cliente e dos colaboradores.
A tecnologia não é o fim, mas o meio – uma ferramenta para tornar as experiências mais humanas e efetivas. É preciso dominar os dados: saber onde armazenar, como transportar e como compartilhar de forma segura e eficiente. Antes de chegar à inteligência artificial, temos que garantir que nossa base seja eficaz e segura.
Pensar no agora, mas agir para o futuro
De maneira geral, o evento foi uma lembrança clara de que a comunicação não é só sobre atingir metas do mês ou viralizar um post. Trata-se de construir pontes – entre marcas e pessoas, entre mensagens e valores, entre presente e futuro. Para isso, precisamos de coragem para questionar briefings, dados, estratégias e outras informações ou ideias que nos encontram todos os dias, seja com os clientes, com a equipe etc.
Comunicação, hoje, não é só marketing ou promoção. É relacionamento e conversa. É como marcas mostram quem realmente são, o que representam e como se conectam com seus públicos de forma genuína. Na Sing Comunicação, sabemos que comunicar é uma construção contínua, que exige cuidado, estratégia e, acima de tudo, uma visão de longo prazo para que cada ação reforce a história que a marca deseja contar.
19/11/2024