Estar no SXSW e acompanhar uma parte de todo o conteúdo disponível por lá já é um desafio sem tamanho, mas dessa vez, se não bastasse, ainda nos desafiamos a marcar presença em todas as sessões do Future Today Institute e sermos certificadas em “previsão estratégica”. Sendo assim, mãos à obra para compartilhar um pouco do que aprendemos por lá!
Nosso primeiro conteúdo foi compartilhado por Mark Ryan, gerente Sênior de “Foresight”, no Future Today Institute. Ele é formado em design e trouxe em discussão o crescente número de escritórios em construção nos Estados Unidos enquanto os colaboradores seguem lutando por trabalharem home-office. As empresas criam situações mirabolantes como o “dia da pizza”, a fim de trazer a pessoa para o escritório em troca de uma fatia de pizza. Bom, a meu ver aí já temos uma previsão estratégica que indicaria não construir mais escritórios porque as pessoas atualmente estão sendo “compradas” a trabalharem presencialmente, ou seja, não é mais uma tendência ser presencial neste momento, está sendo uma obrigação. Mas, por outro lado, uma bolha imobiliária pode vir a estourar, com sedes de empresas lindas e enormes vazias por seus funcionários preferirem trabalhar de casa, o que seria tudo bem diante das entregas, mas é necessário justificar a linda construção à disposição de todos.
A Previsão Estratégica é uma metodologia baseada em evidências usando dados. É uma abordagem sistemática, que ajuda os clientes a usarem os dados e entender onde atuar com base neles. A intenção é encontrar maneiras de aproveitar as incertezas que enfrentamos e gerenciar futuros imprevisíveis com confiança. Assim seja! Mark Ryan comenta que o surgimento dos “cenários” em previsões passou a acontecer na Segunda Guerra, com uma abordagem mais baseada em dados e, em cenários. Isso também aconteceu na Guerra da Coréia, e depois com a Royal Dutch Shell, empresa de petróleo, que usava esses cenários baseados em dados para encontrar o tão procurado petróleo.
Amy Webb, CEO do Future Today Institute, apresentou em seu último relatório três pontos a serem analisados: governo, negócios e sociedade.
Começando por governo, entende-se por fornecer parâmetros de comportamento para os cidadãos, protegê-los de danos e garantir a felicidade e o bem-estar de todos. Existirão fatores que vão impedir a felicidade humana e o que falta são previsões mais de longo prazo para ajudar líderes a criarem políticas e diretrizes eficientes que lidem com o desemprego, escassez de alimentos, mudanças climáticas, todos problemas que já podemos prever que acontecerão – já acontecem agora, né? Então, seguirão acontecendo em um maior número se nada for feito já.
Seguindo para negócios, costumava-se criar um produto ou um serviço e em seguida, era preciso gerar receita para que ele seguisse em linha. Agora há novos modelos de criação de valor. Quando se cria tecnologias, por exemplo, há barreiras para a aquisição de talentos. Os conhecidos relatórios de tendências da área de marketing não forçam nenhuma urgência de pensar no futuro, só apontam o que acontece nas empresas hoje. Mesmo porque os relatórios apontam o que os chefes querem ouvir, não o que realmente precisa ser alterado, isso segundo o painelista, Mark Ryan. De qualquer forma, ele indica a mudança imediata, substituindo o relatório de tendências por algo mais impactante, que trace cenários, impulsionado por dados, não apenas por tendências.
E, dos três tópicos, o último: sociedade. É necessário capacitar pessoas para que elas se sintam seguras e protegidas e assim, consequentemente, felizes. Isso porque, a sociedade está sendo desafiada a ser mais inclusiva. Instituições não são inclusivas, dados que coletamos não são inclusivos, o que significa que não está sendo considerado o impacto global em seu trabalho.
Resumindo até aqui, estamos todos muito ancorados no presente, com previsões em até no máximo três anos à frente, e tudo bem, porque são tantas incertezas que não estamos conseguindo prever muito mais do que isso mesmo. Mas, como melhorar isso?
Segundo Mark Ryan, o que o Future Today Institute acredita é que precisamos sair da imaginação e criar cenários por meio de dados. Se não sabemos por onde começar, ele indica sermos mais criativos e pragmáticos – a criatividade nos permite construir mais resiliência e o pragmatismo nos ajuda a torná-la mais relevante para as partes interessadas com as quais estamos falando. “Significa que o trabalho que precisamos criar precisa ser plausível, provável e possível, e não especulativo”. A previsão também precisa estar em todos os setores da empresa, não apenas no marketing ou no financeiro. Quando perguntamos “porque isso importa?”, estamos no caminho para levantar dados que sejam relevantes para o futuro. Ninguém sabe ao certo o que está procurando, quando as pessoas vêm falar com a liderança, e é trabalho dos líderes ajudá-las a encontrar uma forma de se encontrar. E aí, bingo! Você consegue diagnosticar um bom líder que consegue prever cenários entre a equipe.
Toda a discussão até aqui indica que todos pensam seus negócios até cinco anos à frente, quando na verdade, segundo o FIT, essa visão precisa ser de mais longo prazo, uma faixa de cinco a 10 anos. Porque não se trata de acertar o que vai acontecer, trata-se de estar preparado para o que possa vir a acontecer. Uma empresa de logística tem que estar preparada para pensar melhor em entregas daqui há 10 anos diante do cenário de cidades inteligentes, assim como delivery de alimentos e e-commerce, por exemplo. Se há chances de em 2027 existir um hotel espacial, como o mercado de turismo está se preparando para isso? Pode não acontecer, mas, se acontecer – e nem vai demorar 10 anos?
E no nosso setor? Em Relações Públicas, Imprensa?
Eu acredito que a relação interpessoal vai continuar sendo extremamente relevante no nosso trabalho e, assim como sempre foi, relacionamento continuará sendo um diferencial. Porque se hoje a tecnologia já me ajuda a gravar esse conteúdo e estar aqui transcrevendo isso dias depois, relembrando tudo com detalhes sem ajuda de pessoas, só com máquinas, o que faz eu me destacar dos demais? Realmente ter tido a oportunidade de estar lá e comprovar que isso veio de uma fonte confiável pode ser uma resposta? Estar com mais pessoas que possam me ajudar a revisar, contextualizar e analisar se o que eu escrevi aqui realmente faz sentido? Ter tido a oportunidade de conhecer o FTI e indicá-lo para outras oportunidades e assim criar laços e relacionamentos? Buscar dados de quantos, como eu, estiveram por lá, receberam o selo do LinkedIn e criar um grupo de discussão entre brasileiros e daqui a 10 anos tem um braço do FIT no Brasil? Nada sei se vai dar certo, mas posso criar cenários e acho que tanto no meu setor, quanto em qualquer um, isso diz mais sobre pessoas e sua criatividade e pragmatismo, que sobre máquinas e tecnologia no geral. Que a imprensa impressa (já quase) não existe mais é um fato, mas outras tantas formas de fazer marca e pessoas se comunicarem passaram a existir que se fosse listar ficaria enfadonho. Eu acredito em um computador visual daqui a 10 anos, mas quero muito ter mais liberdade de ser menos impactada por anúncios irrelevantes e fake news, por exemplo. Se vou acertar, não sei, mas acredito estar preparada para isso